sábado, 1 de setembro de 2007

O Poder da Arte

Já faz muito tempo que as situações vividas nas escolas, os caminhos que vêm tomando o ensino, e o futuro das crianças e adolescentes deste país, convidam-nos a repensar e registrar no papel o que eles entenderam como a função ou o lugar da Arte na escola.

Achamos oportuno pensar no assunto, já que muitas escolas estão colocando em xeque a necessidade da inclusão deste conteúdo no currículo.

Voltando atrás no tempo desde que o homem vive neste mundo, mais argumentos encontramos para confirmar a importância da arte em nossas vidas.

Arte é o nosso refúgio, é o que nos faz indivíduos, insubstituíveis e únicos. Cada um de nós tem uma maneira pessoal e distinta de se expressar, com traços, cores, gestos ou palavras. Temos necessidade de que os outros nos vejam assim, na nossa maneira peculiar de ver as coisas e que, acima de tudo, reconheçam a autenticidade e a força de nossa expressão. Ninguém quer se sentir apagado ou privado da liberdade de mostrar seu potencial, em mínimos e, aparentemente, insignificantes momentos.

Mas, hoje, uma “vanguarda” suspeita, detentora de valores no mínimo duvidosos, tem se estabelecido em nosso meio, mais objetivamente em nossas escolas, com coragem bastante para contradizer a todos: gregos, romanos, modernistas, ... todos.

Essa “vangarda” são aqueles que decidem que a Arte não é necessária no currículo, que se pode aproveitar melhor o tempo do aluno, dando mais aulas de Ciências e Matemática. Há casos, também em que o professor de Arte, profissional capacitado, é remanejado para outras disciplinas, consideradas prioritárias. Em alguns casos, nossos colegas são substituídos pelo professor de Educação Física, que se aventura sob o mando da direção, a ensinar Arte.

Em outros casos, entende-se que artista é o fazedor oficial de murais, encarregado também das bandeirolas e enfeites de festas juninas, enfim, das coisas que precisam ficar bonitinhas.

A Arte, na escola de hoje, tem de vir muito além destas oficininhas excludentes e equivocadas. Tem um papel muito importante, principalmente por que sabemos que, cada vez mais, os nossos jovens têm menos perspectivas de futuro.

A Arte tem o poder de mostrar ao aluno que ele sabe coisas que mais ninguém sabe, que ele é importante e que têm uma maneira só dele de construir e viver sua vida, que as pessoas querem ver o que ele tem a dizer e mostrar que sua realização pessoal pode estar no seu potencial criativo.

A Arte/Educação não pretende resolver problemas políticos ou sociais, e sim, formar pessoas conscientes, com olhar crítico sobre o mundo, com caráter e valores firmes e claros. Pode tornar o aluno sensível à cultura e ao próximo, capaz de perceber seu lugar e importância no meio em que vive e apreciar valores diferentes da posse de bens materiais, do sucesso profissional e das ilusões vendidas pela mídia.

Tudo está impregnado de arte, tudo fala aos nossos sentidos, dando-nos prazer e fazendo-nos sentir coisas indefinidas pois é preciso aprender a ver. Estamos consumindo arte nas suas inúmeras fontes, saboreando o prazer de várias experiências artísticas, sem nos dar conta disso.

O problema não está em saber o que é objeto artístico e sim, aprender a ver as coisas e a vida de um modo mais vivo.

À longo prazo, a Arte proporciona importantes mudanças de atitudes e olhares sobre tudo, além do aumento da capacidade de concentração e habilidade motora e de raciocínio.

“Uma escola consciente de sua missão não cria obstáculos para o futuro de seus alunos, ao contrário, habilita-os a desenvolver seu potencial estético e sua sensibilidade artística, indispensáveis num mundo em que dominar saberes básicos já não é suficiente”. (Sérgio Roberto Vaz é mestre em Museografia e Técnicas Expositivas pela Universidade Complutense de Madrid e Prof. de Artes da Escola da Serra – Belo Horizonte – MG.)

Seja fazendo teatro, desenhando, pintando, cantando, dançando, tocando ou construindo, o aluno percebe que tudo isso lhe traz segurança, equilíbrio, uma visão nova de mundo e sente um grande orgulho quando devidamente valorizado por sua capacidade e criatividade. Na verdade, este é o objetivo primeiro da Arte na escola: que o aluno exercite a sensibilidade artística, não para ser uma grande artista, mas para aprender a usar a imaginação.

Não se trata de um trabalho fácil para o educador. Exige uma formação sólida e total clareza de sua função, o que torna pouco inteligente sua substituição por um profissional de outra área de conhecimento. O domínio das técnicas, o respeito ao fazer do outro, os cuidados com o espaço que ocupamos e com o espaço do outro constituem o contraponto necessário ao uso da liberdade que se abre aos alunos para criar, inventar, virar, revirar e expor suas idéias.

Preservar essa liberdade é garantir a permanência do ato criativo entre eles.

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